As lições aprendidas em 3 anos de cidade grande

Neste mês de Maio, faz 3 anos que deixei Schroeder (SC) e me mudei para o Rio de Janeiro, para trabalhar na Globo.com. Não tinha como ser diferente: Eu estava estudando as tecnologias utilizadas pelo "plim-plim" há quase 1 ano, e idealizava como seria trabalhar para uma das maiores empresas de mídia da América Latina.

Recebi uma recomendação (e sou eternamente grato ao Francisco Souza por isso), passei pela entrevista, fui chamado, arrumei a minha mala (sim, uma só) e me mudei para a cidade grande, na "cara e coragem".

De lá para cá aconteceram inúmeras coisas na minha vida pessoal e profissional. Aprendi muito, mais do que qualquer instituição de ensino poderia me ensinar. Logo, caro leitor, se o seu destino é ir para a cidade grande, trabalhar em uma grande empresa, talvez você se interesse pelo que eu tenho a dizer.

Adapte-se!

Não me considero um "carioca". Invejo colegas de trabalho, que assim como eu vieram de outras partes do país, mas que se adaptaram com facilidade.

Essa é uma lição que eu me forço a aprender todos os dias: Adapte-se.

A realidade é completamente diferente daquele pedacinho de paraíso (ou pedacinho de inferno) do qual você veio. A cultura é diferente, a economia move-se diferente, o lazer é diferente, as pessoas são diferentes, os problemas são diferentes, o tempo passa de uma forma diferente.

"Adapt! Veja mais em dudeologyforall.wordpress.com"
Adapt! Veja mais em dudeologyforall.wordpress.com

Esteja preparado para uma nova faixa salarial, bem como para um novo patamar nos gastos. Esteja preparado para o trânsito caótico, bem como para fazer as mais exóticas amizades. Esteja preparado para a saudade, bem como para deixar os seus conterrâneos orgulhosos. Esteja preparado para estar por conta própria, bem como para enfrentar desafios que você jamais enfrentaria morando com os pais. Esteja preparado para se perder pelas ruas, bem como para encontrar lugares magníficos pelo caminho.

E esteja preparado para a violência, para a desigualdade social e para tantos outros problemas que assolam o nosso país, e que ficam mais evidentes em uma capital.

A Alexia Caldas, atualmente Scrum Master na Globo.com, uma vez me disse: Você tem que aceitar o Rio.

E é basicamente isso! Só depende de você encontrar uma forma de maximizar os prós e minimizar os contras.

Controle o seu ego...

Admito que sempre tive um problema com o ego. Antes de me mudar para o Rio eu me sentia "invencível", capaz de liderar qualquer equipe ou de enfrentar qualquer desafio. As minhas expectativas em relação a mim mesmo eram totalmente desproporcionais.

Esse tipo de postura só é resolvida com choque de realidade. E foi o que aconteceu comigo logo no meu primeiro dia de Globo.com. Quando você passa a conviver com pessoas mais inteligentes (as experientes e maduras, não as "exibicionistas") a sua falta de vivência fica tão evidente que você é obrigado a se posicionar para resolver este problema.

É fácil ter um olho em terra de cego, quero ver você se virar em terra de beholder.

... mas não se subestime

Humildade é sempre bom, mas você deve se dar o valor. E isso é para qualquer coisa na vida.

Ser mais "aguerrido" em uma discussão se faz necessário para a tomada de decisão, principalmente se você não acredita na decisão que está prestes a ser tomada. Você possui a sua experiência, a sua gama de conhecimento, e deve articular argumentos para defender o seu ponto de vista.

Nunca deixe que "os anos de casa" do seu colega sejam o diferencial para uma batida de martelo, muito menos que o grau de instrução te intimide perante o "embate". Os argumentos sim, esses devem ser o diferencial.

As vezes optamos pelo silêncio, alegando que estamos "respeitando" a opinião dos demais. Mas o que você enxerga como "respeito", o seu gerente/superior pode enxergar como "covardia". Sempre tenha a sua opinião (mas esteja apto a mudá-la quando necessário) e use bons argumentos para defendê-la (mas seja educado).

Você não está em um campo de batalha, muito menos em um monastério fazendo voto de silêncio.

Só trabalho sem diversão faz de Jack um bobão

"Adapt! Jack, de O Iluminado"
Adapt! Jack, de O Iluminado

É sempre bom lembrar: Não mude-se sem um tostão no bolso! Tenha uma reserva, e que ela seja uma "senhora reserva". Tenho certeza que ela será muito útil nos primeiros meses da sua nova vida, principalmente para lidar com aquele cheque caução do aluguel.

Em contrapartida, não torne-se escravo do trabalho. Mesmo na ausência de "distrações" como família, amigos, namorada, cachorro, papagaio, televisão, vídeo game, entre outros, não use 100% do seu tempo trabalhando. Mesmo que você tenha se mudado exclusivamente por causa do trabalho (meu caso), tenha momentos de lazer.

Quando me mudei, percebi que precisava estudar uma porção de conceitos e tecnologias utilizadas pelo time que eu ingressara. "Coisas" das quais não aprendi na escola, curso técnico ou faculdade, mas que eles sim. Logo, passei a investir quase a totalidade do meu tempo livre para aprender estes conceitos, descobrir como usar essas tecnologias, qual a melhor forma de empregar determinado padrão. Só assim eu seria capaz de acompanhá-los durante o percorrer do projeto, certo?

A intenção foi nobre, a disciplina foi notória, mas os resultados nem tanto. Passado pouco mais de um ano, eu quase perdera total contato com a minha família, não me alimentava direito, mal saia de casa e o meu rendimento no trabalho não passava de razoável. O "saco cheio" foi tanto, que por muitas ocasiões cogitei arrumar a minha mala (sim, uma só) e voltar correndo para a minha zona de conforto.

Conheça os seus limites, determine um valor para o seu tempo, crie um coeficiente de felicidade e busque o equilíbrio entre a sua vida pessoal e profissional.

Para concluir

A experiência poderia ter sido melhor, isso é fato. Enfatizo novamente a falta de equilíbrio, e também a perda de um estabelecimento de prioridades entre minha vida pessoal e profissional.

Mas se me perguntarem se me arrependo de ter tomado esta decisão, há 3 anos atrás, eu respondo sem pestanejar: Não! E faria de novo se tivesse a oportunidade.

Em tempo, recomendo este peculiar artigo do Papo de Homem, sobre morar sozinho: O que ninguém conta sobre morar sozinho.

Até a próxima!