BDD com Django e Behave

Testar o comportamento da sua aplicação, ao invés de pequenos módulos isolados, é uma grande prática no que diz respeito a escrita de testes que guiem o seu desenvolvimento.

Deixando a polêmica do "TDD is dead" de lado, criar cenários que garantem um determinado fluxo, além de servir como um excelente contrato à sua suite de aceitação, é uma ótima ferramenta para garantir que a integração back-end/front-end está funcionando de acordo com o esperado.

Devo ser sincero com você, caro leitor: Fazer BDD com Django (IMO) sempre foi uma dor de cabeça. Já utilizei algumas ferramentas, como unittest focado em comportamento, doctests, Lettuce, Pycurracy e até mesmo Jasmine... Nada pareceu ser "o certo a se fazer".

Recentemente esbarrei com um artigo ensinando a usar o Behave, um engine de testes BDD para Python... E foi aí que a minha opinião mudou.

Oh, behave!

O Behave é uma biblioteca Python que permite a escrita de specs em linguagem humana, e a execução dos cenários através de asserts em "linguagem de programação". Agnóstico de framework, é um engine promissor, fácil de usar, e que possui uma boa comunidade dando suporte.

"Austin Powers: Oh behave (flickr.com)"
Austin Powers: Oh behave (flickr.com)

Você pode escrever a integração do lib com o Django, como demonstrado na documentação oficial. Como eu sou preguiçoso, prefiro utilizar o módulo behave-django, criado por Mitchel Cabuloy:

$ pip install behave-django

Não podemos esquecer de colocá-lo no INSTALLED_APPS:

INSTALLED_APPS = (
    ...
    'behave_django',
    ...
)

Agora basta criar uma estrutura na raíz do seu projeto (no mesmo nível do manage.py), com a seguinte formação:

features/
    steps/
        steps.py
    environment.py
    funcionalidade.feature

Vamos para um exemplo mais prático: Eu quero que minha home exiba meu nome de usuário, caso eu esteja logado.

Começaremos pelo arquivo .feature. Vou chamá-lo de features/home-logada.feature:

Feature: Logged in page

    Scenario: Access index page

        Given an authenticated user
        When I access the home page
        Then I see my username printed

Já podemos executar o behave através do manage.py:

$ python manage.py behave

Você verá uma saída sinalizando que nosso cenário está montado, mas que ainda não há testes executando de fato.

O arquivo de teste pode ter o nome que você desejar, o Behave olhará para cada ocorrência dentro de steps/ e coletará os passos que serão usados para a execução das especificações.

Mas antes de escrevermos os testes, vamos falar de uma ferramenta essencial quando estamos fazendo testes de interface web com Python.

Splinter

Diretamente da documentação oficial do Splinter:

Splinter is an open source tool for testing web applications using Python. It lets you automate browser actions, such as visiting URLs and interacting with their items.

A ferramenta fornece uma API única para diferentes ferramentas de testes de interface web, como Selenium, PhantomJS e zope.testbrowser.

Conseguimos instalá-la de forma muito fácil, através do comando pip:

$ pip install splinter

É ele que nos permite, através de sua interface, escrever testes utilizando o driver do Firefox (por exemplo), e deixar as tasks executando em nosso servidor de integração contínua com um driver headless, como o PhantomJS.

Django + Behave + Splinter == Epic Win

Podemos utilizar o Splinter juntamente com a mecânica de teste do Behave. A maneira mais fácil é através do esquema de configuração da suite, criando o arquivo features/environment.py, com o seguinte conteúdo:

from splinter import Browser


def before_all(context):
    context.browser = Browser()
    context.server_url = 'http://localhost:8000'


def after_all(context):
    context.browser.quit()

Pronto! O contexto dos nossos testes tem a propriedade browser, que é a instância do Splinter para execução dos testes de interface.

As specs executarão com o Firefox, por padrão. Caso queira alterar o navegador, basta especificá-lo na instância de Browser:

context.browser = Browser('chrome')

Dado um determinado cenário

Vamos escrever o código Python necessário para atender a seguinte condição:

Given an authenticated user

Para isso, criaremos um step específico para autenticação:

# features/steps/auth.py

from behave import given
from django.contrib.auth.models import User


@given('an authenticated user')
def given_auth_user(context):
    User.objects.create_superuser(username='test', email='foo@bar', password='test')

    br = context.browser
    br.visit(context.base_url + '/admin/')
    br.fill('username', 'test')
    br.fill('password', 'test')
    br.find_by_css('.submit-row input').first.click()

O código acima é simples e objetivo. Através do decorator @given associamos um determinado pedaço de código Python a um trecho das histórias escritas em .feature.

Rodando o behave, teremos uma saída similar a essa:

$ python manage.py behave

Creating test database for alias 'default'...
Feature: Logged in page # features/home-logada.feature:1

    Scenario: Access index page    # features/home-logada.feature:3
    Given an authenticated user    # features/steps/auth.py:5 0.646s
    When I access the home page    # None
    Then I see my username printed # None

O motor de testes, além de identificar e executar o trecho de código necessário para contemplar uma expressão, exibe o tempo de execução da mesma.

Quando alguma coisa acontece

Vamos para a parte onde o usuário interage com a aplicação.

# features/steps/actions.py

from behave import when


@when('I access the home page')
def access_the_home_page(context):
    br = context.browser
    br.visit(context.base_url + '/')

Aqui começa a ficar mais evidente o funcionamento de steps. Se amanhã eu precisar de um novo cenário onde é necessário acessar a página inicial, eu posso aproveitar o when criado acima. O Behave fará isso automaticamente para você... Portanto, organizar os steps de uma forma que eles agrupem um determinado grupo de ações é uma sugestão interessante.

Então eu espero algum resultado

E para finalizar o nosso exemplo, vamos para o decorator de @then, que é o passo onde validamos o resultado dos acontecimentos disparados por @when:

# features/steps/results.py

from behave import then


@then('I see my username printed')
def see_my_username(context):
    br = context.browser
    body = br.find_by_css('body')

    assert 'Hello test!' in body.text

Pronto! Executamos nossas specs e temos o seguinte resultado:

$ python manage.py behave

Creating test database for alias 'default'...
Feature: Logged in page # features/home-logada.feature:1

    Scenario: Access index page      # features/home-logada.feature:3
    Given an authenticated user    # features/steps/auth.py:5 0.654s
    When I access the home page    # features/steps/actions.py:4 0.888s
    Then I see my username printed # features/steps/results.py:4 0.075s

1 feature passed, 0 failed, 0 skipped
1 scenario passed, 0 failed, 0 skipped
3 steps passed, 0 failed, 0 skipped, 0 undefined
Took 0m1.617s
Destroying test database for alias 'default'...

Garantimos através dos cenários acima que, dado um usuário logado, imprimiremos o seu username na rota http://localhost:8000/.

Considerações finais

O Behave é uma ótima ferramenta de BDD para Python. Sua integração com o Django e demais frameworks é relativamente simples, o que só aumenta a simpatia pela ferramenta.

Já sofri muito com escrita de testes de aceitação com Django. Não é um veredicto, mas até o momento o sentimento é extremamente positivo em relação ao casamento entre Behave e Django.

Até a próxima!

Referências